quarta-feira, 8 de abril de 2009

NOKIA-ON-DIVE

A convite do MU, o Shampo Decapante esteve no Nokia On-Live que aconteceu na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa, no passado dia 4 de Abril, sábado, para assistir ao Festival. (Mundo Universitário)

Corredores a mais e poucos joanetes a contar os limpos azulejos da Aula Magna, acenderam o festival NOKIA ON-LIVE. O evento recebeu seis bandas portuguesas em dois palcos. Os radiofónicos Fingertips e os novatos Klept, dividiram a noite com bandas como Cool Hipnoise, X-Wife, Doismileoito e Buraka Som Sistema. Uma fraca luz humana a esquecer a cerveja fresca nos barris, contemplou este ensaio festivaleiro.

A miudagem deambulava pelo recinto numa correria de caspa em gel, e juro que fui abordado e me perguntaram: «sabe onde fica a sala de audições para os morangos com açucar?» - um acepipe que não soube responder, no traje desta espécie de Super Bock em Stock, mas num sentido mais mainstream. O meu coração repartia-se pelo Palco Play - onde actuariam os Fingertips, Klepht e os Doismileoito - e pelo Palco On - a receber os Cool Hipnoise, X-Wife e os Buraka Som Sistema. Mas este mal de amor era em vão, já que a organização arrumou bem a casa e os concertos alternaram sem misturas, e com curtas pausas.

Ressurreição
Recomposto do susto desse vassalo e dúbio sentimento, dei por mim a ouvir os primeiros acordes de uns 'Fingertips Unpplugged' com um bonito e providencial romantismo em palco, que amiúde me transportou a alma ao W.C. que, baixinho, vomitou enquanto avulso cortava os pulsos. Refeito da súbita má disposição, acomodei-me para um download repostado dos Cool Hipnoise, que com a sala ainda a transpirar a comédia do provincianismo romântico, atacaram no Groove e embalaram para um bom ensaio dançante como é seu apanágio. Com o recinto avermelhado pela luz que irradiava do palco, ensaiei um passo tanguista ao balcão, para aferir da frescura da cerveja. Na queda escapuli-me a um cigarro num claustro romântico, e ao lado de um cipreste anão ferrei o pulmão ao som de 'Groove Junkie'. De uma janela, Teresa de Albuquerque acenava-me num pleonasmo do 'Amor de Perdição' e, assim escreveu Camilo, - voltou Simão Botelho ao recinto...

Domingo de Ramos
Ancorei então a nau nos Klepht. O pesadelo dos Marillion portugueses, abanavam em palco espasmos de epilepsia numa atitude «fuck, I'm a fucking Rock Star!». Nesse espanto, Teresa de Albuquerque deixara-me ao destino de mais uma odisseia solitária ao bar e, com a tiróide já molhada, dei por mim de novo no Palco ON, com a presença da Hannah Montana sentada três filas atrás de Simão Botelho. Só aí o sol nasceu num bocejo da preguiça do sono - «Hey man. It`s fucking X-Wife time!». Leia-se X-Wife, com X maiúsculo, que quando os vi pela primeira vez, foi à borda d`agua, ali no Lux, de entrada para os norte-americanos Liars. Ali lhes diagnostiquei pedra na vesícula e alguns anos a desabarem fulminantes tópicos, a embaraçar os ditos dinossauros do rock tuga que mais parecem tristes personagens de um auto do Gil Vicente.

Santíssima Trindade
O simpático rock dos Doismileoito, findou a tarefa do Palco Play e os quatro algarismos por extenso foram quem melhor safra colheu dessa estrutura. Ainda as luzes dos céus da Aula Magna não haviam esmorecido, e já alguns impacientes fãs de dança batiam o pé sorrateiramente num aquecimento para os Buraka Som Sistema. Foi nessa altura que me envolveram num lençol, me ataviaram à mortalha algumas pedras bem amarradas e me lançaram ao oceano. É que kuduro é sempre kuduro, seja em Lisboa, seja em Luanda, seja pelas ruas de Chicala ou seja no Anfiteatro da Reitoria da Aula Magna, a receber um festival tipo fast-food, para um consumo imediato.

Com os concertos bastante curtos e os horários bem respeitados, tenho a salientar a actuação dos Cool hipnoise, dos doismileoito, e daquela que é agora provavelmente a melhor banda do meio alternativo nacional, os X-Wife, de quem fui cantarolando o Ping-Pong quando rumei a sul, com a esperança que melhores edições venham a ornamentar este evento.

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